Helder Bastos - "O futuro pertence aos ecrãs"



Por Diogo Pereira
diogoatpereira@gmail.com 


Helder Bastos terá para sempre consigo o galardão de ter sido o autor da primeira tese de doutoramento sobre ciberjornalismo em Portugal. Já em 1999 andava com as questões do binómio jornalismo/internet na cabeça tendo defendido uma tese de mestrado sobre internet e reconfiguração de práticas nas redações. Foi jornalista entre 1988 e 2003 ao mesmo tempo que ia acumulando funções de docência na área da comunicação social. A Licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade do Porto nasceu há 13 anos e Helder Bastos integra o corpo docente desde o primeiro dia. Na fase de turbulência que o jornalismo vive em Portugal e no mundo Helder Bastos avisa os proprietários das empresas de média de que se o público só tiver jornalismo de fraca qualidade não vai querer pagar por ele.

Na atual conjuntura a instantaneidade da informação está na ordem do dia. Acha que é mais importante dar melhor ou dar mais rápido?

Defendo que se deve dar melhor. Depois de se ter feito o trabalho de confirmação é que se deve dar a notícia mas, infelizmente, na voragem que há hoje e que ataca o jornalismo, que é a voragem da velocidade, do dar primeiro, bater a concorrência, não ter deadline ou o deadline ser continuo, criou uma cultura que é avessa a um dos pilares tradicionais do jornalismo: primeiro confirmar a informação, até de forma exaustiva, com o cruzamento de fontes, e só depois dar a notícia. O que se tem verificado nos anos mais recentes é que muito devido à cultura que se instalou esse valor tradicional do jornalismo foi sendo posto um pouco de lado por variadíssimas razões e isso tem resultado em algumas situações que não são muito abonatórias para a credibilidade dos média e do próprio jornalismo. Já vários meios de comunicação social de renome, incluindo a BBC, a vetusta BBC, foram apanhados nesta onda de apanhar coisas na rede, nomeadamente no Twitter, esquecerem-se, ou terem negligenciado a confirmação da informação e darem a notícia vindo , posteriormente, a verificar-se que era falso. É muito fácil pôr boatos a circular na web com uma aparência muito credível portanto quando os jornalistas sérios se distraem ou baixam a guarda cometem erros que lesam o próprio nome da classe.


Se as pessoas querem jornalismo mais rápido acha que elas têm noção de que o jornalismo mais rápido é um jornalismo com menos qualidade?

Diria que a maior parte dos consumidores de notícias online aprecia a notícia instantânea, os 140 caracteres do Twitter, o rapidamente e em força e tenderá a apreciar menos a informação mais aprofundada e mais verificada e aí teremos muito que trabalhar em prol dos cidadãos de modo a que eles percebam que é importante saberem o que estão a consumir enquanto consumidores de notícias e para isso têm que ser mais rigorosos e exigir mais rigor dos órgãos de comunicação social tradicionais e dos jornalistas tradicionais. Aí temos todos a ganhar. A informação melhora do lado de quem produz, os jornalistas e ganha do lado dos consumidores que consomem informação mais credível, pode ser menos rápida mas é mais credível e, de um ponto de vista de consumo das notícias, penso que sairemos todos a ganhar. Não creio que se possa dizer que porque as pessoas estão a querer ser constantemente informadas com fastfood noticioso isso as vá tornar pessoas e cidadãos mais bem formados, antes pelo contrário, pode intoxica-los, pode distrai-los, pode sobre informa-los, que é também uma forma de desinformar os cidadãos.

Há a ideia de que os cidadão querem, eles mesmos, ser jornalistas. Como vê esta questão do jornalista cidadão?

Com alguma precaução. Portugal têm um enquadramento legal muito rígido: só pode ser e afirmar-se jornalista quem cumprir uma série de pressupostos legais e que estão consagrados no estatuto do jornalista. Para se ser jornalista em Portugal não dá para ser qualquer cidadão a intitular-se como jornalista, em outros países até pode, no nosso não. Talvez o mais enganoso seja colar-se o jornalismo ao cidadão, isso torna a expressão um bocadinho enganosa porque dá a ideia de que alguém se deita cidadão e acorda jornalista-cidadão, não é assim, obviamente que não é. Há determinadas situações em que o cidadão está lá com a sua máquina de filmar ou com o seu telemóvel e testemunha coisas que o jornalista não teve tempo, porque os jornalistas também não podem estar em todo o lado, e muitas vezes o trabalho que o cidadão faz pode parecer-se com o jornalismo tradicional e isso até era feito muito antes de se falar no jornalista cidadão. Os cidadãos já há muito tempo que contribuem com dicas, com fotografias, com informações, isso hoje tem é outras ferramentas muito mais poderosas, nomeadamente as redes sociais que permitem a captação de som e imagem.

Como é que olha para o jornalismo e as redes sociais?

Penso que podem ser boas fontes de informação mas como é um espaço muito fértil para boatos e para colocar informações com determinados objetivos – é um bom espaço para o spinning, lançar determinados iscos para que os jornalistas mordam – exige que o jornalista tenha redobrados cuidados quando está a trabalhar nas ou com as redes sociais porque corre muitos riscos de ser engando, de ser engolido pela velocidade a que a informação circula na rede e também com a intensidade que lhe pode afetar o juízo noticioso. Mesmo fora das redes sociais, quando o jornalista trabalha com a web, em geral, tem que ter muitos cuidados porque há informação a mais na internet e muita dela não presta, há muita informação fabricada e deturpada e isso também já levou a muitos erros por parte dos jornalistas que num primeiro momento ficaram estonteados com tantas fontes de informação novas que apanharam na internet. Nas redes sociais há algumas nuances próprias e aí o jornalista tem que ter muito cuidado também com o que apanha e com o que absorve e ás vezes até mesmo com o que diz nos seus espaços pessoais porque pode colidir com determinados aspetos ligados à sua profissão e pode inclusivamente por em causa o nome do órgão de comunicação para o qual trabalha, O jornalista tem que medir várias coisas diferentes quando está na internet porque um jornalista tem uma profissão muito específica com impacto social muito grande e vive também da credibilidade que tem. Já houve casos de empresas que proibiram que os jornalistas tecessem determinados comentários e tivessem determinadas posturas nas redes sociais porque isso põe em causa o nome dele mas também acaba por afetar por tabela o órgão de comunicação para o qual trabalha e aí tem que haver um equilíbrio. Um jornalista é também uma pessoa que tem uma visibilidade social relativamente alta e isso exige dele alguns cuidados para preservar a sua reputação.

Como é que é possível garantir que um jornalista consegue assegurar todas essas obrigações quando os órgãos de comunicação social estão a reduzir as suas redações e cada jornalista tem que fazer mais trabalho? O jornalista é cada vez mais polivalente.

Sim, o jornalista é cada vez mais polivalente mas isso tem um preço. Na maior parte dos casos um preço elevado em termos de qualidade do trabalho que se produz. É evidente que um jornalista demasiado polivalente não pode fazer nada bem. Nem vai filmar bem, nem vai escrever bem, nem vai contextualizar bem, nem vai fazer o cruzamento de fontes que deve fazer nem vai preparar-se bem ou minimamente em profundidade para os temas que está a tratar e em termos de qualidade criam-se condições para que ela diminua. Há aqui um problema de perceção dos proprietários dos órgãos de comunicação social em relação àquilo que deve ser valorizado no trabalho jornalístico e eu temo que em muitas empresas se privilegie sobretudo o lucro, se privilegie o gerir a empresa como se gere uma outra empresa qualquer que esteja na bolsa e cujo o objetivo seja agradar aos acionistas e não aos leitores, aos telespetadores ou aos ouvintes e quando isso acontece está o caldo entornado porque uma gestão puramente empresarial, sem uma noção daquilo que é a especificidade do jornalismo leva, normalmente, ao emagrecimento das redações, o famoso downsizing, criam-se equipas curtas, muito novas, muitas vezes sem grande experiência e sem prespetiva histórica, não é culpa de serem jovens, não é isso que está em causa, mas acontece e daí considerar que as redações têm que equilibrar entre os novos talentos mas também a experiência e a memória que têm os mais velhos e esse equilíbrio desapareceu da maior parte das redações. Muitas vezes por uma gestão tipicamente contabilística. Eles pensam que se puderem ter jornalistas mais novos e mais mal pagos conseguem poupar algum dinheiro e gasta-lo de outras formas, muitas vezes não ao serviço do jornalismo e este é um erro que tem sido cometido por muitos gestores dos média embora existam outros fatores agravantes como as condições do mercado, por exemplo. É evidente que não se podem fazer grandes omeletas sem bons ovos e com poucos ovos ainda pior. Isto tem que ver com um fenómeno mais geral da convergência dos média que leva à integração de redações e à diminuição de equipas. É evidente que isto pode fazer sentido do ponto de vista de gestão empresarial, mas eu temo que isso esteja a ter um custo elevado ao nível da qualidade do material jornalístico que se produz. Cria-se, a montante, outro problema que é: se nós oferecemos cada vez mais notícias com baixo valor acrescentado, muito homogéneas, todos fazem praticamente o mesmo, criamos condições para que as pessoas também tenham menos apetite para estarem a consumir e a pagar um tipo de notícias que é igual em todo o lado. Não se criam, desta maneira, condições para oferecer informação de qualidade ao público e, com isso, podemos estar a alienar muito daquilo que é o público consumidor das notícias com qualidade. Há aqui muitos riscos em cima da mesa e eu não sei se a maior parte dos gestores que estão à frente das empresas de comunicação social tem essa noção. Espero bem que tenham. A bem de todos nós.

A noção que parecem ainda não ter é a de encontrarem um verdadeiro modelo de negócio para o ciberjornalismo. Esta é a grande dor de cabeça.

Sim. Se olharmos para o panorama geral dos meios de comunicação social vemos, desde as grandes cadeias de televisão até ao jornal de província, a debaterem-se com grandes problemas que resultam de um enfraquecimento do modelo de negócio tradicional, que era a venda de audiências aos anunciantes. O velho modelo assente na publicidade continua, apesar de tudo, a ser a maior parte do rendimento dos média mas está a desvanecer-se, está a perder força. Os anunciantes estão a fugir para a internet e depois na internet espalham-se por vários sítios. Temos cada vez menos uma publicidade de massa. Em segundo lugar, quando passamos para os ciberjornais, temos um problema ainda mais agudo porque eles não conseguem encontrar, para si próprios, as receitas que deem para sustentar as equipas online. Cria-se, assim, um problema mais agudo ao crescimento da informação de qualidade no ciberjornalismo. Temos aqui um problema a montante e a jusante dos meios de comunicação social, um problema mais global que afeta todos os meios transversalmente e um problema muito específico dos cibermédia que, de facto, ainda não arranjaram um modelo de negócio que o torne sustentável. Daí, por exemplo, se olharmos para o panorama do ciberjornalismo em Portugal vemos redações pequenas a fazerem muito o copy/paste e a chutar as notícias e os takes da Lusa, sem grande tratamento, ou a fazerem o shareware, ou seja a fazerem a passagem dos artigos do papel para o online mas com muito pouca produção própria e muito menos de qualidade porque isso exige tempo, exige meios, e equipas maiores. Estamos numa espécie de impasse e há muitas tendências que tenderão a agravar-se. Estamos a sair de um velho paradigma publicitário de audiências e estamos a entrar num novo que ainda não descolou. Não é um momento fácil para o jornalismo.


Acha que vamos chegar a uma fase em que vamos deixar de ter jornais impressos ou televisões generalistas?

Não gosto muito de fazer futurologia, pelo menos de uma forma perentória. Prefiro agarrar em tendências que estão já a manifestar-se e arriscar projeções, como fazem os economistas. Se fizermos uma projeção das tendências que estão agora a ganhar corpo, digamos assim, provavelmente vamos, numa projeção mais longínqua, deixar de falar em ver televisão ou estar na internet porque muito provavelmente todos os média estarão integrados e aquilo que para nós hoje ainda são noções separadas – a televisão, à rádio, a internet – provavelmente diluir-se-ão. A experiência de consumir informação ou entretenimento vai ser integrada e terá que se arranjar alguma coisa para designar isso tudo. A questão que é mais colocada é o papel vai desaparecer? Muito provavelmente vai. Não digo como os maiores catastrofistas que garantem que é já em 2014. Bill Gates também dizia que íamos chegar ao ano 2000 e já não haveriam jornais impressos e eles estão aí. Já muita gente enterrou os média tradicionais e em particular os jornais em papel. É evidente que isto ainda vai demorar umas gerações até que se possa consumar. Há quem diga que o jornal, no futuro, se vai transformar num produto gourmet, só para uma elite que ainda faz questão de ler o jornal em papel. É o que provavelmente pode acontecer antes de o papel desaparecer, que é o que provavelmente acontecerá num futuro longínquo mas isso não implica que o jornalismo tenha que desaparecer. Uma coisa é falarmos no desaparecimento de suportes, isso aí é uma questão de mais década, menos década a questão é não confundir isso com o fim do jornalismo e dos jornalistas. É ancestral e tem futuro a necessidade que as pessoas têm de se informarem, de saberem o que se passa e as pessoas não podem informar-se só, ou sentirem-se bem informadas, com origem naquilo que se troca em redes sociais, uns com os outros. É preciso alguém que faça, cada vez mais, o trabalho de distinção entre informação boa e má, o que é lixo e o que é boato. Isso é um trabalho típico dos jornalistas e que vai continuar a ter pertinência para os cidadãos que não conseguem funcionar enquanto tais se não tiverem informações de qualidade que lhes permita tomar decisões informadas. Este é um problema que por vezes não é bem esclarecido: muita gente pensa no fim dos jornais, no fim do papel e confunde isso com o fim do jornalismo. Não é bem a mesma coisa. Gosto de alertar para isso. Podem suportes mudar, fundirem-se, passarmos a consumir tudo apenas através de ecrãs, onde a linguagem da televisão se funda com a da rádio mas isso não significa que não continuaremos a ter a necessidade de nos sentirmos informados.


Essa necessidade não pode fazer acabar aquilo que são os jornais de referência ou aquela informação mais longa, muito mais pormenorizada? Há a ideia de que as pessoas só querem saber títulos. Ou acha que esta é uma tendência mal analisada?

Não será. Os sinais que nos vão chegando sobre o consumo de informação que se faz online ou nos dispositivos móveis – e os dispositivos móveis têm mais restrições em termos de navegabilidade – é que uma massa grande de pessoas aprecia o tweet e o headline. Se isso estiver a desenhar uma tendência esmagadora para o futuro então os jornalistas terão uma tarefa muito simplificada que é largarem constantemente tweets de 140 caracteres ou o que possa vir a substitui-los e isso não abonará muito a favor da profundidade e da contextualização. Podemos vir a ter um consumo desse tipo muito generalizado. As pessoas procuram informação cada vez mais light e vamos ver qual vai ser o comportamento das novas gerações, dos nativos digitais perante o consumo da informação, que é uma incógnita. Podemos desenhar algumas tendências que não nos auguram nada de bom mas eu temo é que no futuro haja uma massa de pessoas, e isto já acontece atualmente, que se satisfaça com a informação de título ou de LEAD e o aprofundamento ou a procura de contextualização e até de problematização dos temas vai caber a uma elite que vai ser cada vez menor. E a questão que se põe é se essa elite é suficiente para sustentar o jornalismo e os jornalistas de qualidade. Que tipo de empresas é que vão trabalhar para esses nichos? E há já muitos autores de referência, que estudam o jornalismo, que colocam estas questões. Até que ponto vai haver uma elite que sustente, do ponto de vista financeiro, a produção do jornalismo e do ciberjornalismo de qualidade?


Um antigo jornalista e atual cronista em Portugal, o Miguel Sousa Tavares, tem uma posição muito radical em relação a este aspeto. Ele defende que os meios de comunicação social devem sair do online. É possível? Pode ser esta a solução?

Creio que não. Este é um caminho sem regresso. O futuro pertence aos ecrãs. As pessoas aderem muito bem a isso e em massa. O futuro – que já é presente – do entretenimento e da informação será cada vez mais feito online e em ambientes hipertextuais e este é um caminho sem regresso, é demasiado fácil, demasiado intuitivo e atraente para se dar agora um recuo. Ninguém vai convencer agora as novas gerações de que vão ter que voltar aos jornais de papel e aos livros de papel. É um caminho saudosista que creio não ter viabilidade.


Não podemos falar no futuro do jornalismo sem falar nos futuros jornalistas. A formação de jornalistas, no ensino superior acontece há 20 anos, a Universidade de Coimbra foi a primeira instituição a atribuir um curso superior de jornalismo. Como é que acha que o jornalismo se foi alterando com a entrada de novas pessoas que já são licenciadas? E como é que vê o futuro destes jovens que estudam jornalismo?

Há um aspeto que melhorou muito com as novas gerações de jornalistas formados em escolas ou universidades. O nível técnico aumentou substancialmente. O jornalismo de há quase 30 anos, em particular na imprensa, do ponto de vista técnico, da redação da notícia e da reportagem, era muito inferior ao que é praticado hoje. Hoje escreve-se muito melhor sob o ponto de vista técnico e jornalístico do que se escrevia há 20 ou 30 anos atrás, em geral. Para isso contribuiu muito a formação das novas gerações, e isto foi um contributo inestimável que as universidades deram às novas gerações que renovaram muito as redações. O que eu vejo como problema é que a competência técnica não é acompanhada de uma formação cultural que acompanhe essa formação técnica. Muitas vezes os alunos saem das universidades com algumas competências técnicas mas depois, a nível de cultura geral falham muito. Isso é muito notado pelas gerações mais velhas de jornalistas que consideram que os mais novos “não sabem nada” e agravam-se alguns preconceitos entre a velha geração, que era muito composta pelos dropouts, que eram pessoas sem formação específica no jornalismo, que tinham deixado cursos como engenharia ou medicina a meio e tinham ido para o jornalismo e então essa geração entrou muito em choque com as primeiras gerações que saíram das universidades e das escolas de jornalismo. O que falhou aí, embora hajam exceções, foi o facto de a formação técnica das novas gerações de jornalistas não ter sido muitas vezes acompanhada por uma formação cultural maio. As queixas nas redações continuam a existir relativamente à ignorância de muitos alunos. Por exemplo o “quem é quem” na atualidade. O nome do ministro. O nome do sindicalista. E até quando se entra na história. Os alunos, por vezes, chegam com muitas falhas e isso é aproveitado pelos mais velhos para os acusar que eles não sabem nada. 

Se podemos dizer que a culpa será de alguém, podemos dizer que a culpa é dos estudantes que são desinteressados ou das universidades que não conseguem fazer este acompanhamento da parte técnica e da parte teórica?

Acontece um pouco das duas coisas. As universidades não conseguem colmatar estas lacunas com que os alunos chegam. E digo chegam porque também é importante o percurso que vem de trás. Também há falhas que vêm do secundário. Não podemos culpar só os alunos ou só as universidades temos que ver a questão num contexto mais abrangente. Independentemente disso não haja dúvidas que o jornalismo que se pratica, em geral, com uma qualidade, sobretudo técnica, em relação ao que acontecia à duas décadas atrás. Há ainda muito trabalho a fazer. Agora enfrentamos outro desafio que é muito importante que é preparar os alunos e os futuros jornalistas para uma realidade muito volátil, em mudança muito acelerada. As competências que as empresas esperam mudam quase todos os dias. Estou a exagerar mas temos que estar atentos aos sinais, no sentido de preparar o melhor possível os alunos, não só do ponto de vista técnico, mas isto hoje passa muito por aí porque, de facto, uma das maiores exigências dos últimos anos é que os alunos saiam preparados para trabalhar em ambientes multimédia e isso exige das universidades uma capacidade de adaptação grande. Nós, universidades não podemos descurar a formação nos aspetos éticos, profissionais e até culturais do jornalista porque isso é muito importante porque não nos vale de muito mandarmos para as redações alunos que são muito bons no flash e a editar vídeo e áudios mas que depois não têm faro para a notícia ou não têm conhecimentos gerais de cultura ou têm dificuldade em fazer uma reportagem à moda antiga, digamos assim. Temos que procurar na formação um equilíbrio para não formarmos só técnicos de jornalismo mas para formarmos jornalistas com aptidões técnicas.

©Entrevista gravada em 1 de Novembro de 2013